"E se pudéssemos semear a água? Como seriam os frutos dessa árvore? Seriam frutos de água limpa? Cristalina? Ou seriam frutos de água turva? Frutos de água... árvore de água? Será que todos poderiam ter sementes de água e cultivá-la? E os frutos, como seriam? Seria possível que todos plantassem e cultivassem essa árvore de água? A água limpa, será que também é para todos? Os frutos dessa árvore, seriam sujos, frutos de sangue? Frutos de cobalto, frutos de selênio, frutos de dejetos e ossos mortos de crianças indígenas? Ou seriam frutos limpos, frutos puros, frutos de uma água que pudéssemos beber? Seria esse mundo possível? Aposto na arte e digo sim, afirmo com o poeta Manoel de Barros: o mundo não foi feito em alfabeto. Senão que primeiro em água e luz. Depois, árvore."
Luana Costa
Curadora e Orientadora.
A natureza e o seu ciclo, água como alimento e elemento essencial da vida. Neste trabalho, apresento a água em esferas, como símbolos de frutos de uma árvore.
Estes frutos são representados duplamente: de um lado temos os frutos com toda a sua potência vital e nutrientes advindos de sua natureza pura e selvagem; e de outro, temos frutos cuja essência vital é interferida pela contaminação humana sobre a terra, que atinge profundamente suas raízes.
As gotinhas por fora das esferas de água, assim como o pólen, semeiam a terra e dão continuidade ao ciclo da vida. Por outro lado, nas esferas contaminadas, não há a renovação desse ciclo, mas sim sua interrupção. Uma árvore, com frutos, presas com metais (ouro e prata) é uma árvore cheia de adornos, ornamentada com o resultado de tudo que se pode comprar. Ciclo do consumo. Trago a discussão sobre o uso da água como produto, como natureza seja ela embalada, plantada e vendida. O desmatamento para o plantio de grandes produções de alimentos, como a soja transgênica, plantas cheias de agrotóxicos, modificadas na sua essência para sobreviverem a pragas pelo seu volume de produção, mas que deixam seus frutos contaminados.
A agropecuária que também desmata e polui os lençóis freáticos, ligando a problemática das águas dos rios e mares, que sentem o resultado da falta de políticas urbanas de saneamento. Esferas como adornos, presas com o ouro e toda a obscuridade do garimpo, ceifando os elementos essenciais para a vida. Quem pode ter uma árvore de água? O fruto/água quem possui? O fruto/água para quem? A água “orgânica”, quem tem acesso?
Qual o valor da água?
Vamos Semear a Água!
Dani Paiva